Conexão Brasil                                                        janeiro de 2005
 

 

Notícias de Puna


Mensalmente, o Osho Conexão Brasil apresenta aos seus leitores notícias diretamente de Puna, Índia. Esta coluna é de responsabilidade do Sw. Prasado, brasileiro, há alguns anos residente em Puna, na Osho Commune International, onde cuida da tradução para o português do site oficial do Osho:   www.osho.com .

 


Sw. Prasado

 Olá amigos,

                     Estamos na última semana do ano. O resorte está lotado. Nessa temporada, o grande número de visitantes orientais do sexo feminino (Japonesas, Coreanas e Chinesas de Taiwam) chamam a atenção. Continuam os preparativos no resorte para a grande festa da passagem de ano.
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Para encerrar o ano de 2004 temos uma entrevista com Swami Ashirwad (Roberto Shinyashiki) cujo nome dispensa apresentação para os brasileiros pois é o autor de best sellers como Sucesso é ser feliz, Amar pode dar certo e A caricia essencial. Nos últimos dois anos ele tem vindo regularmente para Puna atendendo convite do resorte para facilitar grupos de terapia. Aqui ele é somente Ashirwad: sannyasin, músico e terapeuta do Osho.

Vejam como ele tornou-se discípulo do Osho nos anos 80 e seu retorno a Puna depois de doze anos.

 

Beloved Ashirwad,

Como sempre faço com os sannyasins veteranos que estiveram com o Osho, primeiro pergunto: como foi que você ouviu falar do mestre, seu encontro com ele e a decisão de tornar-se um discípulo?

Grande Prasado,

Obrigado pela força....acho que seria super legal você fazer uma apresentação detalhada com o Ashirwad por aqui porque muita gente não tem a mínima dimensão da minha participação nessa história...bem aqui vai a primeira resposta.
Eu conheci o Osho por acaso no final dos anos 70 lendo um livro inesquecível: Nem água...Nem lua... A partir dele comecei a devorar outros tantos livros e logo depois comecei a fazer grupos com o Somesh, um sanyasin amigo que trouxe para o Brasil o trabalho do Osho. No final de 86 resolvi ir para Puna quando Osho estava voltando da sua viagem internacional. Nessa época o Ashram estava praticamente vazio pois os sanyasins ainda não estavam sabendo com certeza da sua volta. O meu primeiro contato pessoal com o mestre foi uma historia interessante: a Samwara , uma amiga querida , sabendo que eu tocava guitarra comentou comigo: quando você chegar lá procura o Milarepa que é o coordenador do departamento de música e fala que você toca guitarra, assim você toca no darshan. E assim eu fiz. Como na época tinham poucas pessoas, fui convidado para tocar naquele dia mesmo. Ensaiamos e compusemos a música, que começava com um solo de guitarra. Por uma coincidência a música começava com um solo de guitarra e eu estava preparado para fazê-lo, mas quando o Mestre entrou, ele me olhou com aqueles olhos luminosos com uma luz comparável com o sol; eu desmontei e comecei a chorar, meus braços caíram junto ao meu corpo. Embora eu tivesse consciência não consegui tocar nada. Somente chorava e pedia para os meus braços tocarem alguma coisa, mas em vão. Só conseguia chorar frente a tamanha energia de amor. Quando Osho terminou o seu discurso, ele se levantou e, de novo me preparei para tocar, mas de novo recebi uma super dose de amor, as lágrimas começaram a escorrer e os braços desabaram. Enquanto guardava a guitarra, exultante com a oportunidade de ter estado tão perto do mestre, mas ao mesmo tempo me preparando para tomar uma bronca do Milarepa,  percebi que ele se aproximava de mim. Abaixei a cabeça me preparando para a dura quando ele suavemente falou: a energia do Mestre é forte, não é? respondi um sim bem baixinho e ele com um olhar bem carinhoso me disse: amanhã aparece às 3 da tarde para tocar de novo!!!
Nessa semana mesmo pedi sannyas. Naquela época a cerimônia era bem simples e ao mesmo tempo carinhosa. Um indiano conversava com a gente sobre o nome recebido e fazia uma pequena, e deliciosa, meditação.
Durante os anos em que o Osho esteve vivo todos os anos eu permanecia um bom tempo em Puna até que a nossa comunhão teve o seu momento máximo com a sua morte. Eu tive a felicidade de estar ao seu lado nos seus últimos dias e participar de todo o processo da sua passagem. Depois disso me separei de Puna, continuava ligado ao mestre, mas fiquei totalmente longe do movimento dos sanyasins. Até que dois anos atrás a voz do meu coração me avisou que era tempo de voltar.

 

Seu encontro com o mestre foi emocionante. Agora vamos falar do resorte nos dias de hoje. Você passou a facilitar grupos da Multiversidade no resorte introduzindo aqui a experiência de caminhar sobre brasas (fire walking) como parte do grupo que você lidera.Como esta sendo a sua experiência de dar grupos no Resort?

Prasado,

Bem vamos falar então um pouco do Resort como existe hoje para eu poder falar do meu trabalho aqui.
Como eu te falei desde a morte do mestre eu fiquei muito tempo longe de Puna pois tinha tomado as suas palavras ao pé da letra: não venere um mestre morto. A partir daí meu contato havia ficado baseado em livros, seus tapes e vídeos. Nessa época, ainda em Puna,  senti uma sensação do Mestre me orientando para falar sobre felicidade em empresas. Deixei de dar grupos de crescimento pessoal e passei a trabalhar em seminários para organizações. Minha carreira deu um salto quântico e tomou um rumo totalmente inesperado. Até que no final de 2002 resolvi voltar para cá. No vôo para a Índia uma sensação estranha de dúvida sobre esse reencontro. A chegada ao resort foi comovente, mas ao mesmo tempo estranha. Pois agora não existia a presença física do Mestre. A maioria dos novos sanyasins não havia conhecido o Osho

pessoalmente. O lugar havia se transformado totalmente. Agora não era mais Ashram, era resort. O luxo havia tomado conta do lugar. Os darshans não eram mais no Buda Hall, mas sim no imponente Auditorium. Os novos jardins eram sofisticadíssimos. A piscina olímpica servia de lugar de lazer para pessoas que estavam ali para curtir o lugar e as pessoas. Os restaurantes elegantes serviam pratos elaborados da culinária internacional. O Plaza à noite acolhia pessoas sofisticadas com roupas elegantes, ao contrário dos quase hippies de antigamente. E principalmente o Mestre não conduzia pessoalmente os encontros do começo da noite. Os darshans passaram a ser através da apresentação de uma fita de vídeo.


Roberto Shyniashiki

Após o choque inicial, percebi a grandeza da turma que estava administrando o lugar. Lógico era difícil, quase impossível preencher o vazio da ausência física do Osho, mas a intensidade da proposta foi tomando conta de mim e eu me percebi entrando em uma nova dimensão de ser discípulo do Mestre.
Logo nos primeiros dias tive a oportunidade de reencontrar o Yogendra. Um amigo de antigamente que havia se tornado um dos coordenadores do lugar. Jantamos juntos comentando a nova proposta. Entao ele me perguntou como eu estava me sentindo nesse novo jeito do Ashram: eu lhe respondi que embora tivesse estranhado muito no comeco , agora tinha percebido a nova dimensão desse jeito de criar um lugar para os sanyasins mas  estava adorando e que imaginava o trabalho que estava dando criar esse novo lugar. No final da conversa ele comentou:  bem agora é tempo de você dar alguns grupos.
Eu me dei conta que era chegada a hora de dar minha contribuição no projeto e aceitei o desafio. Antigamente eu nunca havia aceitado nenhum convite para dar grupos porque sempre achei que Puna era um lugar para eu me trabalhar. Era o meu lugar da minha evolução espiritual. Era um lugar pra eu ser simplesmente mais um na fila do darshan. Afinal de contas eu já tinha muito trabalho o tempo todo no Brasil. Mas agora o meu crescimento iria ser ajudar outros no seu crescimento espiritual. O outro lado da história é que desde a passagem do Osho eu não dava mais grupos de crescimento. Somente seminários e palestras para empresas.
Voltei ao Brasil, entrei em contato com o Milan e o pessoal do Namaste em Porto Alegre que me convidaram para dar um grupo em um programa chamado Carnawow. O Aamod da Humaniversity estava por lá e me fez um convite para estar em um programa da Humaniversity no grupo do Veeresh. Ou seja, voltei a mil por hora com os grupos de terapia entre os sanyasins.
Então, em janeiro deste ano, comecei a dar grupos em Puna. E resolvemos fazer um processo chamado Firewalking. Onde as pessoas têm a oportunidade de caminhar sobre brasas. Eu tenho feito esse seminário com centenas de empresas e equipes de esportes, inclusive com atletas olímpicos. Existem muitas maneiras de fazer esse processo. Aqui no resort eu tenho feito muito para desenvolver a capacidade de dar um salto no escuro.
Agora no final do ano eu trabalhei com Grupos de relacionamentos afetivos. Para os brasileiros, essas idéias já são conhecidas por que muitas pessoas já leram os meus livros: Amar pode dar certo e Mistérios do coração. Mas o mais importante são as vivências e principalmente a oportunidade de compartilhar idéias com pessoas de todo o mundo.
Você deve se lembrar que quando fez o Firewalking em Janeiro tinha mais de 60 pessoas de quase trinta países do mundo.
Dar grupos em Puna é muito especial porque todos estão aqui na conexão com o Osho o que facilita bastante as coisas, mas lógico que as projeções acontecem tão intensamente como em qualquer lugar do mundo.
Agora vou ao Brasil para o final do ano, de lá aos Estados Unidos e volto em fevereiro aqui para dar mais dois grupos. Eu tenho curtido muito voltar a dar grupos e quero me organizar  para em 2005 dar  uns três grupos no Brasil. E  poder sentir como está a energia do Osho em nosso país depois de tanto tempo.

 

Como você vê essa nova fase em Puna?

Prasado,

Bem, essa é uma nova fase para todos nós especialmente para mim. Antes era uma conexão direta. Eu vinha para cá e todos os dias no final da tarde nos sentávamos para comungar a Sua energia e beber a Sua sabedoria. Agora o contato é invisível e isso nos exige uma capacidade de conexão diferente. Que me leva mais uma vez a uma nova mudança.
Eu estou muito feliz com essa nova fase do resort embora esteja tendo de mudar intensamente a minha maneira de ser um sanyasin. O Osho de 2004 para mim é muito diferente daquele dos anos 70.
Eu fico meio chocado quando escuto os sanyasins antigos reclamarem que esse lugar não é a mesma coisa. Graças a Deus que não é. Porque Osho é transformação. Quando o Mestre estava vivo esse lugar mudava todos os dias. Na primeira vez que eu cheguei aqui os encontros eram feitos com poucas pessoas, mas em menos de três meses, na inauguração do Buda Hall estavam presentes mais de 10000 pessoas. Eu acho um saco as viúvas do ontem. Ontem passou. Passa sempre!
Ser sanyasin nunca foi um negócio fácil, pois o Mestre sempre fez questão de criar vendaval por onde passou. Ele continua fazendo a mesma coisa. Incomodando.
Não deixando as pessoas entrarem em sono acomodado nunca.
Os coordenadores desse lugar estão simplesmente entregando o lugar que ele prometeu que ia ser . Foi o Osho que falou do Auditorium, da piscina olímpica, da transformação do Buda Hall, isso está em um dos discursos dele. O problema é que uma mudança do mestre obriga sempre a uma mudança do discípulo. E mudar a si próprio é sempre mais complicado.
Lógico que algumas vezes eu sinto muitas saudades da presença do Mestre. Também lógico que eu compreendo que esse corpo é simplesmente uma vestimenta do ser. Mas como dizia o Mestre: os meus olhos sentem saudades e eu não posso controlar as saudades dos meus olhos. Na minha volta a esse lugar eu estava morrendo de saudades de ver o Rolls Royce dele se aproximar e ver a sua silhueta dentro do carro e aqueles olhos profundos como o oceano, mas eu estava dando uma de durão e segurando as lágrimas. Até que um dia a Meera, a pintora japonesa, que é uma amiga muito especial, me convidou para jantar no apartamento dela. Enquanto comíamos, ela colocou uma fita com uma palestra do mestre. Ao escutar a voz dele não me contive, comecei a chorar e desabafei: eu sinto muitas saudades dele. Ela também não se conteve e chorou muito. E ficamos a noite inteira compartilhando as saudades dele...
Agora apesar das saudades, temos de entender que o tempo não pára e procuro avançar do jeito que dá...
Sempre que as pessoas me perguntam, especialmente os brasileiros que não estiveram em Puna, que esse é um lugar obrigatório de se conhecer. Pois aqui você poder ver as lições do Osho diretamente como era quando ele estava vivo. Nos encontros da tarde. Não vai ninguém lá em cima falar. É simplesmente um vídeo dos discursos exatamente como aconteceu naquele dia há alguns anos atrás. Nos centros do mundo, por mais bem intencionado que o coordenador seja, ele acaba se transformando em um tradutor do Osho e aqui você tem a oportunidade de uma conexão direta que acaba dando uma dimensão melhor para cada um.

 

Osho pediu aos seus sannyasins que quando ele deixasse o corpo, eles se espalhassem pelo mundo levando sua visão, principalmente pela criação de comunas pelo mundo inteiro.  
O que está acontecendo é que o Ashram, hoje resorte em Puna, subsistiu e tornou-se uma espécie de quartel general da visão de Osho. Em vez de comunas, surgiu a internet que facilitou muito disponibilizar os ensinamentos do Mestre para a humanidade. Com a sua experiência de sannyasin do Osho, como você abordaria o que aconteceu e o rumo das coisas e o futuro deste lugar?

Prasado,                                  

Quando um mestre deixa o seu corpo ele passa a não ter mais o controle sobre as suas mensagens... tem sido assim com os grandes mestres como Cristo e  Maomé... por suas idéias nunca se matou tantas pessoas na história da humanidade e não seria diferente com o Osho. Cada coordenador de um centro e de uma home page vai dar a sua interpretação da mensagem do mestre. Como Ele não está mais vivo para dar a sua opinião, cada um faz o que quer ...
Por outro lado, quando um discípulo procura um caminho, ele vai buscá-lo com o seu coração e com a sua neurose. O seu coração vai levá-lo a buscar livrar-se dos condicionamentos do passado e a sua neurose vai procurar manter o seu ego. Uma luta eterna. Mesmo quando Osho estava presente no Ashram cada discípulo utilizava o seu trabalho à sua maneira. Alguns muito criativos e outros muito neuróticos. A German Bakery vivia lotada na hora do darshan por discípulos que viviam reclamando de alguma coisa das falas do Mestre.
Ou seja tem muitas pessoas fazendo um trabalho legal e outros somente usando o nome do Mestre para procurar ganhar um dinheiro de um jeito não ético.
Recentemente eu li uma carta comovida do Champak para você se posicionando contra pessoas inescrupulosas que tem usado o Osho para vender as mais diversas bugigangas. Eu entendo o sofrimento dele... para mim, às vezes é bem triste ver os absurdos que algumas pessoas fazem com a imagem do Mestre. Porém o outro lado da questão é que não é possível controlar a mediocridade humana. E se essas pessoas resolverem vender santinhos na igreja com a imagem do Osho ninguém vai poder impedi-los de fazê-lo pois existem milhões de pessoas que procuram um band-aid para as suas angústias.
A sacanagem vai acontecer porque têm pessoas que gostam de mediocridade. Mas nós temos de procurar fazer alguma coisa para as pessoas que querem um caminho de verdade terem onde buscar.
Nesse sentido eu vejo a home page do Osho, em um plano internacional e o Osho Conexão-Brasil em um plano nacional, como ações maravilhosas para darem uma opção verdadeira para aqueles que realmente buscam um encontro com o Mestre.
Quando eu voltei de Puna em 1987, após o encontro com o Mestre, também fiquei maluco com os absurdos que faziam com o Mestre no Brasil. Após alguns meses de revolta eu percebi que publicar os livros do Mestre era uma saída para dar uma opção àqueles realmente interessados em algo melhor. E a Editora Gente assumiu a publicação dos livros no Brasil. Durante anos tivemos prejuízos (somente no plano financeiro... ) mas sempre ficou a sensação de que estávamos fazendo algo importante. Agora imagino que o Champak ainda esteja com prejuízo financeiro nesse projeto, mas certamente ele está fazendo pelo Osho o que de melhor poderia ser feito. Informar deixa uma opção para as pessoas saberem quem está fazendo um trabalho consistente. E é importante que todos nós assim como você está fazendo procurando colaborar no sentido de fazer esse trabalho crescer.
Mas temos de ter outras iniciativas para darmos opções para quem quer conhecer o Mestre. Fazer meditações.Tenho pensado que seria importante organizarmos um encontro de todos coordenadores de centro para integrar esforços e dar mais força para os nossos centros. Os centros são fundamentais para a divulgação da energia do Mestre. Imagina uma pessoa em Franca, no interior de Sao Paulo, Feira de Santana no interior da Bahia ou Erechim no interior do Rio Grande do Sul poderem fazer dinâmica todos os dias? Isso é sensacional!!!
Há algum tempo conversei com o Yogendra sobre essa integração de Puna com os centros dos diversos países e ele comentou que após organizar o Resort e a Home Page era chegado o momento de criar uma forte conexão com os centros. Agora podemos aproveitar essa oportunidade para melhorar essa conexão. Acho que nós dois poderíamos coordenar esse trabalho.Temos um desejo genuíno em Puna de conhecer os diversos centros e suas atividades. As pessoas que quiserem um meio de mostrar o seu trabalho podem mandar o seu material diretamente para mim que eu dou um jeito de fazer isso acontecer. No começo do ano eu acertei com a Revista Sexto Sentido um número especial sobre o Osho. Infelizmente um dos diretores da revista bloqueou o projeto por não acreditar que as pessoas comprariam a revista. Eu continuo batalhando para que esse número especial aconteça porque acredito que além de mostrar o Mestre para muita gente vai mostrar para os brasileiros o trabalho dos centros no Brasil.

 

                                                               Puna, 29 de Dezembro de 2004

                                                                                            Swami Prasado

                                                                   Swamiprasado@yahoo.com

  

 

 

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