Conexão Brasil                                                       dezembro de 2004
 

 

Sannyas: uma experiência do dia-a-dia

 

Mensalmente apresentamos nesta seção o depoimento de um discípulo do Osho que adotou a meditação em seu dia-a-dia e aqui compartilha conosco essa sua experiência. O texto abaixo, em negrito e itálico, é sempre de responsabilidade do depoente.
Neste mês estamos apresentando o depoimento da Ma Anand Samashti

 

                Samashti, saniássin há 19 anos, é bastante conhecida em nosso meio. Ela já traduziu vários livros do Osho para o português e, juntamente com o Sw. Prem Abodha, coordena o Centro de Meditação Osho Sukul, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Aposentada há mais de 5 anos, atualmente faz hidroginástica e longas caminhadas. Também faz tricô manualmente, lê, dorme e "aprende a ser idosa", segundo ela própria diz. Disse-nos ainda: "tenho cinco filhos e oito netos - com estes troco amor. Eu vivo e me aproximo cada vez mais e mais de mim a cada dia". 

 

 

               Creio que Osho apareceu na minha vida como apareceu na vida de quase todo mundo. Dentro de mim, não havia nenhum impulso nessa direção. Nem imaginava que “tal coisa” existisse na modernidade. Para mim então, essas eram coisas dos primórdios da humanidade. Lembro-me apenas de, ao sentir Jesus dentro de mim profundamente, lamentar internamente o fato de não tê-lo conhecido pessoalmente. Como eu gostaria de tê-lo conhecido! Mas isso era um desejo que não poderia se repetir, segundo o que eu sabia.

               Mas... vale mais um verdadeiro amigo do que muito dinheiro no bolso. Esse amigo para mim foi o Abodha. Nós éramos colegas de profissão e amigos, já havia oito anos, quando ele encontrou um cara muito esquisito – eu os chamava a todos de “esses Mararishes Mareshes”, dos quais eu queria distância. Uma pessoa que tinha sido católica de carteirinha, sentia o cheiro de repressão à distância. Podia ser um outro tipo de repressão, mas era repressão. E eu já seguia o caminho de lealdade a mim mesma. Nesse tempo, eu vivia no centro do meu ego como quem vivia no centro de seu ser – ficava o tempo todo controlando os vários egos, para nenhum deles me levar para a miséria outra vez. Um sufoco!

               Tive muita preocupação, durante dois anos, com a “perdição” de meu amigo, metido com umas pessoas muito esquisitas. Sempre que ele chegava, eu perguntava: ‘E o velho, como vai ele?’ E ele me dava as notícias e eu ia “controlando” a situação para ele não se perder. Ele também tinha sido “bem-criado” como eu, tinha quase os mesmos valores... Era o que eu achava.

               Um belo dia, vi-me na condição de não suportar mais nada, de estar a ponto de “arrebentar” – acho que quase todos que queiram controlar seus egos tornando-os um só, acabam assim, quando não tomam remédios nem fazem terapias.

               Abodha e seus amigos tinham acabado de alugar uma casa velha lá em Santa Cruz, um bairro distante do centro do Rio de Janeiro. Fui até lá fazer um trabalho que ele facilitava, algo que eu nunca tinha feito. Nesse trabalho, não houve a Meditação Dinâmica, “apenas” uma Nataraj ao meio dia e a Kundalíni à noite... O restante eram jogos para desreprimir e relaxar. Eu me diverti muito e fui muito longe dentro de mim sem saber. Ao meio-dia ele nos preparou para a Nataraj. Começou fazendo cada couraça se movimentar, e lembro-me que requebrei pela primeira vez na minha vida, aos 49 anos. A partir daí, tudo foi conseqüência em minha vida. Costumo dizer que entrei nesse grupo em agosto de 85 e nunca mais saí dele...

               Resumindo: nunca mais deixei de ir ao lugar todas as semanas, até conseguir mudar-me para lá. Para ficar lá, apenas. Somente fazia a Kundalíni. Dois meses depois, estava morando com eles, e dançando de três em três horas – lembro-me bem: Tears for Fears, todo o LP. E eu ia representando algumas das letras. Algumas tinham a ver comigo.

               Detalhe: nunca havia lido Osho. Não suportava.

               Abodha havia me dado “A Semente de Mostarda”, mas o livro falava de tudo que “eu já sabia”, assim pensava meu ego, pois eu era uma estudiosa das religiões e já contestava a Igreja Católica nas suas mentiras – tudo o que ela afirma e que não batia com a minha experiência, tornava-se uma mentira perigosa. Engraçado é que, quando me aparecia alguém pouco ilustrado sobre o assunto religião, eu emprestava o livro para ela. Quando a pessoa me devolvia o livro, vinha com uns olhos enormes e me perguntava a minha opinião. Meu ego invariavelmente respondia que não tinha lido aquele livro, mas que eu sabia de tudo aquilo – conclusão tirada da leitura das primeiras páginas. E como um alerta, invariavelmente, todas disseram: “Você devia ler, é muito bom.”. Eu controlava minha feição de desprezo e reforçava o que já havia dito, isto é, reforçava meu ego.

               Mas o tempo passou e três meses depois de eu morar com eles na casa velha, o Abodha recebeu o nome que havia pedido para a comunidade que eles estavam começando a formar, como nome de um Centro de Meditação – Sukul.

               Eu só conhecia centro comercial e espírita, nem fazia idéia do que era aquilo. Apenas vi um movimento muito estranho: os moradores resolveram ir embora, porque não queriam ter a responsabilidade de um Centro de Meditação. Não entendia ainda a explicação dada – estava iniciando minhas meditações, a aplicar as técnicas em mim. Meu entendimento era puramente intelectual e nada daquilo fazia sentido. Mas o Abodha aceitou e eu fiquei com ele. Como eu disse, eu não sabia mais o que fazer da vida, ela não me interessava mais.

               Muitos anos depois, fortuitamente, tornei-me uma leitora assídua de Osho e só de Osho; e mais, tornei-me uma tradutora dos livros dele. Foi assim que aprendi a ouvi-lo no que ele dizia, pois a tradução pode ser uma leitura muito profunda.

               Foi assim que descobri o que ele sugere ser um saniássin ou uma saniássin: um experimento do Mestre. Alguém que tendo ouvido e compreendido, vai experimentar em si o que foi sugerido, segundo sua própria compreensão. Só depois de experienciar, o saniássin pode descartar a sugestão do Mestre, caso aquilo não tenha a ver com ele. Digo-lhes: até hoje não encontrei nada que não tivesse a ver comigo. Por isso Osho é meu Mestre.

               Comecei a meditar mesmo, uns três meses depois de estar morando lá. A tal da Dinâmica, para mim, seria a última coisa no mundo que eu procuraria. Talvez por isso foi a única recomendada por um terapeuta. Tentei loucamente durante alguns meses, até que engrenei e fui de quarta marcha durante três anos... A Kundalíni era um presente ao entardecer, e outras meditações também. Costumava fazer a Nataraj à tarde, mas era muito forte fazer três técnicas por dia. A pessoa pode ficar fora do ar. Melhor seguir o que diz Osho, no máximo duas e sempre as mesmas, nos mesmos horários.

               Um belo dia, eu me vi em plena meditação ao viver minha vida e meus trabalhos. Foi algo extremamente prazeroso e tornou-se meu modo de vida – estar aqui e agora em tudo o que faço é toda a minha alegria. Essa foi a transformação que a meditação trouxe para a minha vida.

               Estive duas vezes com Osho. Da primeira vez, quando fiquei um mês e tinha somente um ano de meditação, fiquei mais contente de sair de lá do que de estar lá. Só gostava dos bolos e pães e dos discursos noturnos. Mas aquele convívio com os saniássins brasileiros era extremamente penoso – eu não falava inglês. E eu era muito esquisita: tinha muito medo e muito julgamento saindo pelos olhos. Não havia muito o de que se gostar em mim.

               Na segunda vez, fiquei quatro meses e já tinha dois anos de Dinâmica. Já sabia observar meu ego. Ainda era muito defensiva, mas eu já sabia que estava sendo defensiva. Cada um tem sua história de abuso. A minha levou-me a isso. Além do mais, quase todos eram muito jovens, eu já tinha 51 anos... Mas fiz poucos ótimos amigos.

               Quanto ao Osho Sukul, ele é coordenado pelo Abodha, eu sou mera ajudante dele. É pura gentileza dele dizer que eu sou coordenadora junto com ele. É como eu me sinto bem e à vontade. Ele me fez tão bem que quero que continue ajudando as pessoas a se aproximarem delas mesmas. Os que queiram conversar comigo sobre alguma coisa, sempre me encontram à disposição. Só não me interesso por mundanalidades.

                 Se eu tivesse de dizer algo, eu diria aos novos que nunca confundam técnica de meditação com a meditação propriamente dita. As técnicas são a única oportunidade que eu conheço de chegarmos ao distanciamento do ego, de poder olhar para o próprio ego - aí sim, de meditar. E não é preciso fazer nada, basta olhar para ele que ele derrete. E você vive mais, verdadeiramente. Osho nunca nos enganou.

samashti@iis.com.br

             

 


Ma Anand Samashti -  foto no Osho Sukul

 

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