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Conexão
Brasil
novembro
de 2008
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A
necessidade de aprovação e reconhecimento
Querido Osho,
Por que sinto
necessidade de obter aprovação e de ser reconhecido,
especialmente em meu trabalho? Isso me coloca numa armadilha
– eu não consigo fazer as coisas sem isso. Eu sei que
estou nessa armadilha, mas eu fui pego nela e não vejo como
sair.
Você
poderia me ajudar a encontrar a porta?
"A
questão é do Kendra.
É preciso lembrar que a
necessidade de obter aprovação e de ser reconhecido é uma
questão que diz respeito a todo mundo. A estrutura de toda
a nossa vida é essa que nos foi ensinada: a menos que
exista um reconhecimento, nós somos ninguém, nós não
temos valor. O trabalho não é o importante, mas sim o
reconhecimento. E isso coloca as coisas de cabeça para
baixo. O trabalho deveria ser o importante – uma alegria
em si mesmo. Você deveria trabalhar, não para ser
reconhecido, mas porque você curte ser criativo, você ama
o trabalho em si mesmo.
Existiram poucas pessoas como Vincent Van Gogh, capazes de
escapar da armadilha que a sociedade lhes impingiu. Ele
continuou pintando – com fome, sem casa, sem agasalhos,
sem remédios, doente – mas ele continuou pintando. Nem
uma pintura sequer estava sendo vendida, não havia
reconhecimento de parte alguma, mas o estranho era que em
tais condições ele ainda era feliz – feliz porque era
capaz de pintar o que queria pintar. Reconhecido ou não, o
seu trabalho era intrinsecamente valioso.
Aos trinta e três anos ele cometeu suicídio – não
por causa de alguma miséria ou angústia, mas simplesmente
porque ele havia pintado o seu último quadro, um pôr-do-sol,
no qual havia trabalhado por quase um ano. Ele tentou
dezenas de vezes e destruiu, porque não havia atingido
aquele seu padrão. Finalmente ele conseguiu pintar o pôr-do-sol
da maneira como desejava.
Ele cometeu suicídio escrevendo uma carta para seu irmão,
‘Eu não estou cometendo suicídio por desespero. Eu estou
cometendo suicídio por não mais existir qualquer motivo
para continuar vivendo – o meu trabalho está concluído.
Além disso, tem sido difícil encontrar alternativas para
meu sustento. Até aqui as coisas estavam indo bem, porque
eu tinha algum trabalho para fazer, algum potencial dentro
de mim precisava se exteriorizar, tinha que florescer. De
modo que agora, não há sentido em viver como um mendigo.
Eu ainda não tinha pensado e nem mesmo tinha olhado para
isso, mas agora essa é a única coisa a ser feita. Eu
floresci até o meu limite máximo, eu estou realizado, e
agora parece ser apenas uma estupidez ficar me arrastando,
procurando alternativas de sustento. Por que razão? Para
mim isso não é um suicídio; eu apenas cheguei a uma
realização, a um ponto final e alegremente estou deixando
o mundo. Alegremente eu vivi e alegremente estou deixando o
mundo.’
Agora, após quase um século, cada uma de suas pinturas
vale milhões de dólares. Existem apenas duzentas pinturas
disponíveis. Ele deve ter pintado milhares, mas elas foram
destruídas; e ninguém prestou atenção nelas.
Agora, ter um quadro de Van
Gogh significa que você tem um senso estético. O quadro
dele traz um reconhecimento para você. O mundo não deu
qualquer reconhecimento ao trabalho dele, mas ele nunca se
preocupou com isso. E esta deve ser a maneira de ver as
coisas: você deve trabalhar se amar aquele trabalho.
Não peça
reconhecimento. Se ele vier, aceite-o tranqüilamente; se
ele não vier não pense a respeito. A sua realização deve
estar no próprio trabalho. E se todos aprendessem esta
simples arte de amar o seu trabalho, seja qual ele for,
curtindo-o sem pedir por qualquer reconhecimento, nós teríamos
um mundo mais belo e mais celebrante. Do jeito que o mundo
é, vocês têm estado presos num padrão miserável. O que
você faz é bom, não porque você ama fazê-lo, não
porque você o faz perfeitamente, mas porque o mundo o
reconhece, lhe dá uma premiação,
lhe dá medalhas de ouro, prêmios Nobel.
Eles
têm tirado todo o valor intrínseco da criatividade e
destruído milhões de pessoas – pois você não pode dar
prêmios Nobel a milhões de pessoas. E têm criado o desejo
por reconhecimento em todo mundo, de modo que ninguém
consegue trabalhar em paz, curtindo qualquer coisa que
esteja fazendo. E a vida consiste em pequenas coisas. Para
as pequenas coisas não existem premiações, nenhum título
concedido pelos governos, nenhuma graduação honorária
dada pelas universidades.
Um dos grandes poetas do século XX, Rabindranath Tagore,
viveu em Bengala, Índia. Ele publicou suas poesias e seus
romances em bengali – mas não recebeu qualquer
reconhecimento. Então ele traduziu um pequeno livro,
GITANJALI, Oferta de Canções, para o inglês. E ele estava
consciente de que o original tinha uma beleza que a tradução
não tinha e não conseguiria ter – porque essas duas línguas,
o bengali e o inglês têm estruturas diferentes, maneiras
diferentes de expressar.
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O
bengali é muito doce. Mesmo se estiver brigando, vai parecer
que você está envolvido numa conversação agradável. É uma
linguagem muito musical, cada palavra é musical. Essa qualidade
não existe no inglês, não pode ser trazida para ele. O inglês
tem qualidades diferentes. Mas de alguma maneira ele conseguiu
traduzir e a tradução – que é pobre comparada com o
original – recebeu o prêmio Nobel. Então, de repente, toda a
Índia ficou sabendo. O livro esteve disponível em bengali e em
outros idiomas indianos por anos, e ninguém prestava atenção
nele.
Todas as universidades quiseram
lhe dar um título de Doutor. Calcutá, onde ele vivia, foi a
primeira universidade a lhe conceder o título de Doctor of
Letters. Ele recusou, dizendo, ‘Vocês não estão dando uma
graduação a mim nem estão reconhecendo o meu trabalho, vocês
estão dando reconhecimento ao prêmio Nobel, porque o livro
esteve aqui de uma forma muito mais bela e ninguém se preocupou
em escrever ao menos uma crítica’. Ele recusou-se a receber
qualquer doutorado honorário. Ele dizia, ‘Isso é um insulto
para mim’.
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Jean-Paul
Sartre, um dos grandes romancistas e homem de tremendo insight
sobre a psicologia humana, recusou o prêmio Nobel. Ele disse,
‘Eu recebi recompensa suficiente enquanto estava criando o meu
trabalho. Um prêmio Nobel não consegue acrescentar coisa
alguma a isso – ao contrário, ele me joga para baixo. Ele é
bom para amadores que estão em busca de reconhecimento, eu já
sou bastante velho, eu já desfrutei o suficiente. Eu amei tudo
o que fiz. Essa foi a minha própria recompensa, eu não quero
qualquer outra recompensa, porque nada pode ser melhor do que
aquilo que eu já recebi.’ E ele estava certo. Mas as pessoas
certas são poucas no mundo. O mundo está cheio de pessoas
vivendo dentro das armadilhas.
Por que você deve se preocupar
com reconhecimento? Preocupação com reconhecimento somente faz
sentido se você não ama o seu trabalho, nesse caso ele não
tem significado, então o reconhecimento parece ser um
substituto. Você detesta o trabalho, não gosta dele, mas você
o faz porque será reconhecido, será apreciado e aceito. Ao invés
de pensar no reconhecimento, reconsidere o seu trabalho. Você
gosta dele? – então ponto final. Se você não gosta, então,
troque-o!
Os pais e os professores estão
sempre reforçando que você deve ser reconhecido, que deve ser
aceito. Esta é uma estratégia muito esperta para manter as
pessoas sob controle.
Quando eu cursava a universidade,
me disseram repetidas vezes, ‘Você deve parar de fazer essas
coisas... Você continua formulando perguntas que sabe
perfeitamente bem que não podem ser respondidas e que colocam o
professor numa situação embaraçosa. Você tem que parar com
isso, caso contrário essas pessoas irão se vingar. Elas têm o
poder e poderão reprová-lo.’
Eu dizia, ‘Não me preocupo com
isso. Neste momento eu estou curtindo formular perguntas e fazê-los
sentirem-se ignorantes. Eles não são corajosos o bastante para
simplesmente dizer, ‘Eu não sei.’ Desse modo, não haveria
qualquer embaraço. Mas eles querem fingir que sabem tudo. Eu
estou curtindo isso; a minha inteligência está sendo aguçada.
Quem se preocupa com exames? Eles poderão me reprovar apenas
quando eu aparecer nos exames – e quem vai aparecer? Se eles
estiverem com essa idéia de que podem me reprovar, eu não
entrarei nos exames, e repetirei a mesma série. Eles terão que
me aprovar pelo simples medo de ter que me encarar por mais um
ano novamente.’
Todos
eles me aprovaram e me ajudaram a passar porque queriam ficar
livres de mim. Aos olhos deles, eu estava destruindo os outros
estudantes, porque eles começaram a questionar coisas que, por
séculos, eram aceitas sem questionamentos.
Quando eu estava ensinando na universidade, a mesma coisa
aconteceu, sob um ângulo diferente. Agora eu estava formulando
perguntas aos estudantes para trazer a atenção deles ao fato
de que todo o conhecimento que eles tinham acumulado era
emprestado e que eles nada sabiam. Eu lhes dizia que não me
importava com a graduação deles, eu me importava com a experiência
autêntica deles – e eles não tinham nenhuma. Eles estavam
simplesmente repetindo os livros, que estavam desatualizados,
que já tinha sido provado que estavam errados há muito tempo.
Agora as autoridades da universidade estavam ameaçando-me,
‘Se você continuar por esse caminho, atormentando os alunos,
você será colocado para fora da universidade.’
Eu
disse, ‘Isso é estranho – eu era um estudante e não podia
formular perguntas aos professores; agora eu sou um professor e
não posso formular perguntas aos estudantes! Então, qual função
esta universidade está preenchendo? Este deve ser um lugar onde
as perguntas são formuladas, onde os questionamentos começam.
As respostas devem ser encontradas na vida e na existência, não
nos livros.
Eu disse, ‘Vocês podem me colocar para fora da universidade,
mas lembrem-se, estes mesmos estudantes, em nome de quem vocês
estão me colocando para fora, irão reduzir a cinzas toda a
universidade. Eu disse ao vice-reitor, ‘Você deve vir e ver a
minha sala’.
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Ele
não conseguiu acreditar – na minha sala havia pelo menos
duzentos estudantes... E não havia espaço, de modo que eles
sentavam em qualquer lugar que encontrassem – nas janelas, no
chão. Ele disse, ‘O que está acontecendo, pois tem apenas
dez alunos matriculados na sua matéria?’
Eu disse, ‘Essas pessoas vêm
para ouvir. Elas abandonam as suas aulas e adoram estar aqui.
Esta aula é um diálogo. Eu não sou superior a eles e eu não
posso recusar ninguém que queira vir à minha aula. Se ele é
meu aluno ou não, não importa, se ele vem me ouvir, então é
meu aluno. Na verdade, você deveria me permitir utilizar o
auditório. Estas salas de aula são muito pequenas para mim.’
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Ele
disse, “Auditório? Você quer dizer, toda a universidade
reunida no auditório? O que, então, os outros professores
estarão fazendo?’
Eu disse, ‘Isso é bom para
eles pensarem a respeito. Eles deveriam ir embora e se enforcar!
Eles deveriam ter feito isso há muito tempo. Ao ver que seus
alunos não estavam indo assistir suas aulas, isso já era uma
indicação suficiente.’
Os professores ficaram com raiva
e as autoridades também. Finalmente eles tiveram que me ceder o
auditório, mas com muita relutância, porque os alunos ficaram
pressionando. Mas eles disseram, ‘Isto é estranho, alunos que
nada têm a ver com filosofia, religião ou psicologia, por que
eles devem estar indo lá?’
Muitos alunos disseram ao
vice-reitor, ‘Nós gostamos disso. Não sabíamos que
filosofia, religião e psicologia poderiam ser tão
interessantes, tão intrigantes, senão já teríamos nos
inscrito nelas. Nós pensávamos que essas matérias eram secas
e que somente um tipo de pessoas muito ligado a livros se
inscreveria nelas. Nós nunca tínhamos visto pessoas com muita
energia se inscrevendo nessas matérias. Mas esse homem fez com
que essas matérias ficassem tão significantes que parece que
mesmo se formos reprovados em nossas próprias matérias, isso não
vai importar. O que nós estamos fazendo está tão correto e
está tão claro para nós, que nem pensamos em mudar isso.’
Contra o reconhecimento, contra a
aceitação, contra as graduações... Mas, finalmente eu tive
que deixar a universidade, não por causa de suas ameaças, mas
porque eu reconheci que aquilo era um desperdício, pois
milhares de estudantes poderiam ser ajudados por mim. Eu poderia
ajudar milhões de pessoas do lado de fora, no mundo. Por que eu
deveria permanecer apegado a uma pequena universidade? O mundo
inteiro poderia ser a minha universidade.
E você pode ver. Eu fui
condenado.
Esse foi o único reconhecimento
que eu recebi.
Eu fui descrito de maneira
totalmente incorreta. Tudo o que pode ser dito contra uma
pessoa, foi dito contra mim; tudo o que pode ser feito contra um
homem foi feito contra mim. Você acha que isso é
reconhecimento? Mas eu amo o meu trabalho. Eu o amo tanto que
nem mesmo o chamo de trabalho; eu simplesmente o chamo de minha
alegria.
E todas as pessoas mais velhas,
bem reconhecidas, me diziam, ‘O que você está fazendo não
irá lhe trazer qualquer respeitabilidade no mundo.’
Mas eu dizia, ‘Eu nunca pedi
por isso e não vejo o que poderei fazer com a respeitabilidade.
Eu não posso comê-la nem bebê-la.’
Aprenda uma coisa básica. Faça
o que você quer fazer, o que ama fazer, e nunca peça por
reconhecimento. Isso é mendicância. Por que alguém deve pedir
por reconhecimento? Por que alguém deve ansiar por aceitação?
Olhe no fundo de si mesmo. Talvez
você não goste do que está fazendo, talvez você tenha medo
de encarar que está no caminho errado. A aceitação irá ajudá-lo
a achar que está certo. O reconhecimento irá fazê-lo achar
que está indo para o objetivo correto.
A questão diz respeito aos seus
próprios sentimentos internos, ela nada tem a ver com o mundo
externo. Por que depender dos outros? Todas essas coisas
dependem dos outros – você está se tornando
dependente.
Eu não aceitarei qualquer prêmio
Nobel. Toda essa condenação de todas as nações ao redor do
mundo, de todas as religiões, é mais valiosa para mim. Aceitar
o prêmio Nobel significa que eu estou me tornando dependente
– agora eu não estarei mais satisfeito comigo mesmo, mas sim
com o prêmio Nobel. Neste exato momento eu só posso estar
satisfeito comigo mesmo, nada mais existe com que eu possa me
satisfazer.
Dessa maneira você se torna um
indivíduo. Para ser um indivíduo, viva em total liberdade,
apoiado em seus próprios pés, beba a sua própria fonte. Isso
é o que torna um homem verdadeiramente centrado, enraizado.
Este é o início do seu florescimento supremo.
Essas pessoas tidas como
reconhecidas, honradas, estão cheias de lixo e de nada mais.
Mas elas estão cheias do lixo que a sociedade quer que elas
estejam repletas – e a sociedade as compensa lhes dando premiações.
Qualquer homem, que tem algum
senso de sua individualidade, vive pelo seu próprio amor, pelo
seu próprio trabalho, sem se preocupar com o que os outros
pensam a respeito. Quanto mais valioso for o seu trabalho, menor
será a chance de obter alguma respeitabilidade para com ele. E
se o seu trabalho for o trabalho de um gênio, então você não
verá nenhum respeito enquanto viver. Você será condenado
enquanto viver... Depois de dois ou três séculos, erguerão
estátuas para você, os seus livros serão respeitados –
porque demora quase dois ou três séculos para a humanidade
compreender o tamanho da inteligência que um gênio tem hoje. O
espaço de tempo é grande.
Sendo respeitado por idiotas, você
terá que se comportar de acordo com suas maneiras e
expectativas. Para ser respeitado por essa humanidade doente,
você terá que ser mais doente que ela. Então eles irão
respeitá-lo. Mas, o que você irá ganhar? Você perderá a sua
alma e nada ganhará."
OSHO – Beyond Psychology - Cap. 32 – Pergunta 1
Tradução:
Sw. Bodhi Champak
Copyright
© 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
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