Conexão Brasil                            julho de 2007
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A “Comuna” do Osho, hoje

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  Osho International Meditation Resort

Osho Commune International

Buddhafield

Rajneshpuran / Rancho                           .

Rajneeshdham        

Escola de Mistérios

Osho International

                         Shree Rajneesh Ashram

Osho Global Connections         

Rajneesh Mandir

Buddha Hall

Osho Auditorium                            .

Osho Multiversity

          Osho International Foundation

“Esta comuna não é uma comuna comum. Ela é um experimento para provocar Deus.” (Osho)

 

“Buddhafield significa uma situação onde o seu Buda adormecido pode ser desperto. Buddhafield significa um campo de energia onde você pode começar a crescer, amadurecer, onde o seu sono pode ser quebrado, onde você pode levar choque para ficar consciente; um campo elétrico onde você não é capaz de cair no sono, onde você tem que estar desperto, porque os choques estão acontecendo todo o tempo.” (Osho)

 

“Meu esforço aqui não é para ajudar indivíduos – obviamente isto é o que eu estou fazendo – mas, bem no fundo, é um esforço para criar a situação, o suporte, o contexto essencial, no qual um novo homem possa surgir, com amor no coração, com luz na alma, com inteligência, com consciência, o qual possa transformar toda a terra num paraíso. Esse milagre é possível.” (Osho)

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      Entre os anos 1957 e 1966, Osho foi professor de Filosofia na Universidade de Jabalpur, na Índia. Antes mesmo de abandonar aquele cargo, ele já havia começado a viajar por todo o seu país, falando para dezenas de milhares de pessoas sobre todos os temas possíveis relacionados com a busca espiritual.

      Em 1968 Osho fixou residência em Bombaim onde proferia palestras em grandes auditórios e recebia pequenos grupos que sempre surgiam ao seu redor. Nesta época ele desenvolveu suas revolucionárias técnicas de meditação e viajava, conduzindo os famosos campos de meditação.

      No outono de 1970, Osho iniciou os primeiros neo-sannyasins. E na medida em que a sua mensagem começou a se espalhar através de seus novos discípulos, correntes de visitantes e buscadores não pararam de procurá-lo. Pouco a pouco, Osho teve que se afastar da vida pública e recolher-se mais em sua residência em Bombaim, onde recebia os visitantes e os que buscavam a iniciação.

      Conforme ele próprio disse na palestra que traduzimos para este boletim no mês passado, Eu costumava falar para milhões de pessoas neste país, mas eu tive que parar. Eu falava para milhares num simples encontro, cinqüenta mil pessoas. Eu viajei por todo este país por quinze anos, de um canto a outro. Eu simplesmente fiquei cansado daquela coisa toda porque a cada dia eu tinha que começar do ABC. Era sempre ABC, ABC, ABC. E ficou absolutamente claro que eu nunca iria alcançar o XYZ. Eu tive que parar de viajar.” (Osho-The Book of Wisdom). Foi assim que em 1974, Osho mudou-se para Puna, onde estabeleceu o antigo Shree Rajneesh Ashram. Ali ele falava diariamente pela manhã para os grupos cada vez maiores de visitantes e discípulos e, à tarde, recebia indivíduos e pequenos grupos nos encontros mais íntimos denominados Darshans.

      Ainda naquela mesma palestra que traduzimos no mês passado, ele diz: “(Agora) eu não estou falando (mais) para estudantes, mas somente para discípulos... Eu gostaria de falar apenas para o meu povo, de modo que eu possa comunicar tudo aquilo que eu quero, de modo que eu possa estar seguro e confiante de que tudo o que eu disser será recebido com boa fé e com amor, de modo que eu saiba desde o começo que tudo poderá lhes ser revelado e nada será mal compreendido.”. Assim, com o estabelecimento de um ashram, em Puna, Osho pode aprofundar seus ensinamentos, seus toques, sua mensagem.

      A trajetória percorrida por Osho é muito rica e variada. Puna foi palco de inúmeros experimentos e os grupos de discípulos e visitantes, que ali estavam, cresciam naquele campo cheio de eletricidade onde não se conseguia cair no sono da inconsciência. Ou pelo menos, quando caía, havia logo um choque para o despertar. Ele permaneceu em Puna de 1974 a 1981 e era impossível definir um ponto central de seus ensinamentos. Ele compartilhava todos os vários aspectos de sua visão e o seu esforço era para que todos pudessem compreendê-los. Nesse período conhecido como Puna I foram introduzidos no ashram os grupos de terapia, concebidos e utilizados como preparação para uma imersão mais profunda na meditação. Foi constituída nesta época a Rajneesh Foundation para administrar os direitos autorais do Osho e cuidar da expansão de seu trabalho, em particular de  suas publicações ao redor do mundo.

      Entre os anos de 1981 e 1985 Osho mudou-se para os Estados Unidos e estabeleceu-se no Oregon. Ele permaneceu em silêncio a maior parte desse tempo, enquanto uma cidade surgia ao seu redor: Rajneeshpuram com seus milhares de residentes e um número ainda maior de visitantes. O experimento dessa comunidade foi fantástico, o empenho dos sannyasins era total para se tentar alcançar a auto-suficiência. Mas as dificuldades eram muitas e aliadas a uma hostilidade cada vez maior nas vizinhanças, levaram o experimento a um fim. Os mais altos escalões do governo Reagan pressionaram os órgãos federais e estaduais para encontrar meios de desmontar a comuna e expulsar Osho dos Estados Unidos. Por fim Osho foi preso e expulso do país enquanto sua comuna foi dissolvida.

      O que talvez alguns não saibam é que “depois de várias apelações, a legalidade da cidade de Rajneeshpuram foi decretada pela Suprema Corte dos Estados Unidos, em maio de 1988, quando já fazia mais de dois anos que Osho retornara à Índia” (para saber mais sobre a estada, a expulsão e o envenenamento de Osho nos Estados Unidos, leia Autobiografia de um Místico Espiritualmente Incorreto, editado no Brasil pela Cultrix).

      Após a conhecida “Excursão pelo Mundo” (the World Tour), em que Osho foi deportado ou teve seu visto de entrada negado por 21 paises, ele retorna a Bombaim em julho de 1986 e finalmente para Puna no início de 1987. Neste último período conhecido por Puna II, Osho deu prosseguimento às séries de suas palestras, muitas vezes interrompidas por problemas de saúde, decorrentes do envenenamento a que foi submetido nas prisões norte-americanas. A comuna floresceu como nunca e a sua mensagem continuou se expandindo pelo mundo, apesar de várias pressões de toda ordem. Em abril de 1989, Osho entrou em silêncio e assim permaneceu até deixar o corpo em 19 de janeiro de 1990. Ainda naquele mesmo mês de abril, Osho criou o que chamou “Círculo Interno”, um grupo de vinte um discípulos que passou a tomar conta da administração da comuna em suas questões práticas e funcionais. Osho deixou claro que o propósito desse Circulo Interno não era oferecer orientação espiritual. O propósito era cuidar dos aspectos práticos da tarefa de tornar cada vez mais disponível a obra do Osho.

 

      Até aqui essa história já é conhecida por todo mundo. Não há novidade alguma no que foi dito. É mais ou menos como uma história oficial. O que queremos aprofundar um pouco neste artigo são as nossas impressões a respeito do que poderíamos chamar de “o dia seguinte”.

 

      Logo após Osho deixar o corpo, houve uma tranqüila continuidade na vida da comuna: os mesmos trabalhos continuaram sendo executados, os mesmos cuidados com todos os quesitos de estética, de limpeza, e principalmente com aqueles aspectos mais sutis que propiciavam um ambiente convidativo ao mergulho interior. E, paralelamente, prosseguiram as atividades voltadas  à realização das dimensões humanas de alegria, criatividade, prazer, relaxamento, etc Também prosseguiram normalmente as funções administrativas não só da comuna como da expansão da mensagem do Osho pelo mundo.

      Mas, muitas dificuldades seriam logo enfrentadas pelo Circulo Interno ao ter que resolver, sem a presença física do Osho, as mil e uma questões que a toda hora surgiam. E também muitas críticas e contestações surgiram por várias decisões que tiveram que tomar. É importante notar que as críticas aos administradores já existiam mesmo quando Osho ainda estava no corpo, mas, naquela época, as coisas eram mais fáceis de serem conduzidas. Quando ele orientava a criação ou implementação de alguma coisa, por mais estranha e esdrúxula que fosse, ninguém contestava ou colocava em dúvida, pois era uma orientação do próprio Osho. Um exemplo simples foi o pedido do Osho para pintarem todos os prédios da Comuna de preto, o que gerou muitas críticas, mas pouco depois quase todos estavam afirmando: "O preto é lindo!”.

      Mas aconteceu de algumas de suas orientações e recomendações não terem sido implementadas antes dele deixar o corpo. E tornaram-se objetivos prioritários para as pessoas que ficaram à frente da comuna posteriormente. E o que aconteceu? Questionamentos de todo tipo surgiram e continuam surgindo. Há quem coloque em dúvida se determinada orientação partiu mesmo do Osho, há quem conteste a composição do grupo que está no comando de toda essa estrutura, e sobretudo há quem conteste as medidas que vieram a ser tomadas. Osho sempre foi um crítico da democracia e exaltou a meritocracia. O próprio Osho indicou os primeiros integrantes do Círculo Interno e orientou como deveria se dar a substituição de quem se afastasse por qualquer motivo. Então este não é um assunto que se resolve como numa eleição para o novo síndico do prédio.

      Um assunto que provocou muita polêmica foi a transformação da comuna num Resorte. Mas foi o próprio Osho quem disse: “Eu quero criar o maior e mais belo clube de saúde espiritual do mundo – um Clube de Meditação.”  E o que é o Resorte Internacional de Meditação do Osho senão um imenso e internacional clube de meditação?

      Numa coisa todos concordam: a antiga comuna está muito bem cuidada, as questões de limpeza, higiene e estética permanecem como sendo básicas, os jardins estão cada vez mais lindos. Mais sofisticado, alfinetam alguns. Diversos amigos nossos que foram recentemente a Puna com o propósito claro (para eles mesmos) de entrar mais no espaço meditativo, de estar naquele contexto em que o autoconhecimento se torna mais accessível, onde as nossas dimensões mais sutis se afloram mais facilmente, voltaram dizendo que o ambiente convidativo à meditação permanece o mesmo, que o silêncio continua quase tangível como sempre, que a presença do Osho se faz sentir o tempo todo, etc. Mas, e o que dizer das outras pessoas que voltaram com várias reclamações e críticas? A verdade deve ser dita. A maioria dessas pessoas já partiram daqui com o “pé atrás”, já estavam indo a Puna em busca de formação profissional (fora do Resorte), ou já estavam indo em busca de outros mentores espirituais que vendem atalhos para a iluminação (também fora do Resorte), ou simplesmente foram até lá sem um maior comprometimento com a meditação. Registramos até o caso de uma pessoa que escreveu um depoimento, colaborando numa matéria negativa que foi publicada contra Osho, no final do ano passado, numa revista de repercussão nacional. Essa pessoa disse ter ido pela primeira vez a Puna e que se arrependeu quando lá chegou, pois viu que tudo estava completamente diferente do que era antes. Mas, se ela estava indo pela primeira vez, como poderia saber como era antes, para fazer a tal comparação? É sabido também que muita gente critica mesmo sem nunca ter ido a Puna. Fazem questão de dizer que a comuna já não é a mesma e que os atuais dirigentes estão acabando com ela. Parece que algumas pessoas, por não terem seus projetos pessoais acolhidos pela comuna, se tornam propagadores de críticas e as repassam como se fosse uma cartilha para todos aqueles que conseguem influenciar. E nesse grupo se encontram muitos daqueles que por uma razão ou outra discordam das medidas tomadas pelos atuais dirigentes. Passam a agir como se fossem de um partido político e ficam acusando de “cegueira espiritual” todos aqueles que continuam indo lá e que voltam tecendo elogios.

      O que existe por trás desses desencontros, dessas defesas e ataques, dessas fofocas e dessas brigas?

      O que existe são compreensões distintas, e às vezes conflitantes, a respeito da mensagem do Osho. Ele deixou absolutamente claro que não haveria sucessores e seria impensável a idéia de se organizar uma religião em torno dele. Osho indicou que a continuidade de seu trabalho estaria nas mãos de cada um que assumisse a sua própria história individual. Ele nunca endossou a idéia de um movimento ao seu redor. Essas considerações, dentre muitas outras, levaram os atuais dirigentes do Resorte e da Osho International a zelar pelo que se denomina a “visão do Osho”. Eles optaram por patrocinar e proteger a “visão” do Osho. Assim, a antiga comuna ao invés de se tornar um local de peregrinação, de rituais para lembrar a presença física do Osho, de culto a relíquias, ela se tornou um Resorte de Meditação onde a “experiência Osho” pode ser sentida e vivenciada. É um local onde se medita, onde há um convite permanente ao mergulho no espaço interior, mas também se dança, ri, se alegra, onde se é criativo, enfim onde as potencialidades de Zorba e Buda se expressam. Cuidaram para que ali permanecesse um local onde a visão do Osho pode ser experienciada por quem vai até lá. Não cuidaram para que ali fosse um local para se reverenciar a memória do Osho. Essa é a diferença.

      Ao assumir essa orientação voltada para a Visão do Osho, esse grupo dirigente enfrentou muitas reações por parte daqueles que insistiam na opção pelo que foi denominado como “devoção”, aqueles que queriam a abertura dos aposentos do Osho às romarias, aqueles que queriam manter a iniciação ao sannyas nos velhos moldes, com seus rituais, queriam manter o mala e uma série de coisas mais.

      Quando se adota uma posição de contestação, de radicalização, facilmente outras críticas afloram e assim passaram também a contestar a administração dos direitos autorais do Osho. Questionam o controle exercido sobre as publicações de livros e sobre a exibição de vídeos.

      E ainda existem outros grupos de contestadores, como aqueles que reclamam porque o Resorte mantém as portas fechadas para os sannyasins que se declaram iluminados, sem reconhecer neles a iluminação. Pode-se imaginar quanta argumentação esse grupo tem em defesa da abertura do Resorte aos novos iluminados. Mas não vamos nos estender nessa questão. Só ela mereceria um outro artigo.

      Para nós, este não é um jogo do “oito ou oitenta”. Não é o caso de “quem não está comigo está contra mim”. Entendemos que esta é uma questão bastante relevante e que merece um esforço de compreensão maior, pois envolve a administração do legado deixado por Osho. Algo muito precioso está no meio a esse debate. É preciso centramento, isenção e um coração aberto para se entender cada posicionamento adotado. É totalmente imatura a atitude de simplesmente se jogar pedra em quem está no poder. Por isso, temos procurado conhecer e examinar todas as razões que norteiam as decisões desse atual grupo dirigente. E temos que ser sinceros neste ponto: nós temos enxergado nesse grupo e em suas decisões uma coerência, uma fidelidade à mensagem do Osho e uma sincera procura de sintonia com tudo o que ele nos deixou. É claro que podemos discordar, e temos discordado de vários procedimentos que foram e estão sendo adotados. Muitas vezes são apenas detalhes e não damos uma importância maior, mas, quando se trata de algo que realmente é significativo, nós podemos e devemos antes de tudo nos inteirar das razões que levaram aquelas pessoas a tomarem tais atitudes e nos colocar à disposição para fazer as críticas construtivas, se for o caso, apresentar nossas sugestões, para pensarmos juntos. Desta forma, estamos agindo como guardiões do legado deixado pelo Osho. Eu posso construir junto. Pela minha própria experiência pessoal, eu posso dizer que este convite está sempre aberto. Eu mesmo já apresentei sugestões que foram amplamente aceitas.

      Mas, vamos colocar nossa atenção em dois temas que envolvem a questão do poder nas mãos de quem decide o que fazer com o legado que Osho nos deixou.

      Osho foi um crítico severo de todas as religiões organizadas e da manipulação exercida pelos sacerdotes das diversas religiões. Como preservar o legado do Osho sem correr o risco de criarmos mais uma igreja, mais uma organização religiosa? Este é um terreno extremamente delicado, é como pisar na areia movediça. Tudo que se fizer para não se criar religião poderá ser um argumento de que se está tentando criá-la, ainda que inconscientemente. E quando se procura, em sintonia com o que Osho disse, desmontar as armadilhas “espirituais” em que as pessoas se agarram, isto também é imediatamente apontado como insensibilidade ou descaso para com a memória do Osho. É o caso das fotos do Osho que foram retiradas do Resorte em Puna, as músicas em que se suprimiram as referências ao seu nome, como uma forma de adoração, as romarias que citamos acima, etc.

      Mais recentemente, foram feitas várias alterações nos procedimentos da iniciação no sannyas. Se o pessoal do Resorte estivesse numa suposta “viagem de poder”, nada seria mais interessante que manter o controle desse processo através da Osho Academy of Initiation. E o que estamos assistindo? Progressivamente eles foram acabando com a própria Academia e transferindo todo o procedimento para a própria pessoa interessada em tomar sannyas. Primeiro aboliram o ritual ou cerimônia de entrega do sannyas, minimizaram o significado do mala e passaram a vendê-lo como simples lembrança a quem quisesse comprar. Agora, simplesmente pararam de vendê-lo. Depois ofereceram à própria pessoa a opção de escolher seu nome sannyas e agora uma última alteração foi anunciada. Doravante, o interessado em se tornar sannyasin simplesmente acessará o site www.neosannyas.org e seguirá os passos ali indicados. A própria pessoa tomará todas as providências para se tornar um sannyasin, sem passar por qualquer academia. Todo o processo ficará nas mãos do interessado. É claro que os dirigentes do Resorte poderiam ter mantido essa prerrogativa de poder, controlando assim todos os que se sentem atraídos pelo sannyas. Mas, não é este o entendimento deles e não foi esta a sua atitude. E isto é preciso que seja reconhecido.

      Para não nos alongarmos em demasia, vamos abordar apenas mais um assunto que gera muita polêmica e muita crítica. É a atuação da Osho International na administração dos direitos autorais do Osho. Para isto, precisamos voltar mais um pouco na história.

      Conforme publicamos na edição de junho de 2006 deste boletim, Osho nunca se ocupou pessoalmente de assuntos administrativos da sua obra. Ao contrário, ele cedeu toda a sua propriedade intelectual, seus direitos autorais, os direitos de usar seu nome e imagem a uma organização pública sem fins lucrativos: a Osho International Foundation. Desde a época de Puna I, esta fundação (antes era Rajneesh Foundation) ficou responsável pela gravação de seus discursos em fitas cassete, sua transcrição em livros, sua edição e ilustração, sua publicação, compilações, etc. Em Beyond Psychology, cap. 24, ele disse, “Na verdade, todos os meus royalties, todos os meus livros, todo o lucro deles advindos estão indo para a comuna. Eu dei tudo para a comuna. Agora, quatrocentos livros em línguas diferentes trouxeram milhões de dólares em royalties e esses dólares foram para a comuna (no Oregon)”.

      Os políticos, as igrejas e os meios de comunicação utilizaram a ocasião de sua prisão e deportação dos Estados Unidos para manipular a opinião pública com a intenção de silenciar ou, pelo menos, desacreditar Osho por completo. Em todo o mundo os editores retiraram os livros de Osho de seus catálogos e abandonaram os planos já programados de futuras publicações. Sem dar importância à demanda crescente por parte dos leitores, as livrarias devolviam às editoras os livros do Osho existentes em seus estoques. Em pouco tempo, Osho tornou-se um autor censurado e quase todas as editoras em escala mundial cancelaram seus contratos com a Osho International Foundation. Seus livros chegaram mesmo a serem incluídos nas listas negras do Vaticano e de vários estados totalitários.

          Entre 1985 e 1994, os livros do Osho foram pouco a pouco desaparecendo das livrarias, das bibliotecas e da memória do público. Muita gente chegou a pensar que com a deportação dos Estados Unidos e sua morte em 1990, o trabalho do Osho teria se acabado.

      Osho havia deixado um pedido para que sua obra estivesse disponível ao redor do mundo. Esse foi o foco do trabalho da Osho International que, ao longo dos anos 90, sentiu a necessidade de uma perspectiva nova e mais abrangente para a produção editorial e distribuição dos seus livros. Foi assim que a Osho International Foundation abriu a Osho Gallery no coração de Londres para reintroduzir os livros do Osho no mercado onde eles estavam ausentes por uma década.

      As dificuldades em se conseguir um ampla distribuição dos livros do Osho, levou a Fundação a perceber que um passo maior teria que ser dado. Foi então estabelecido um escritório da Osho International na cidade de Nova York, onde centralizou-se a administração dos direitos autorais do Osho para todo o mundo. Nova York é o centro do mundo editorial. Todas as grandes editoras do mundo passam por lá antes de definirem seus programas de publicações.

      Um grande impulso de venda foi dado quando a Osho International definiu preferência por publicações pelas grandes editoras. As grandes editoras mantêm suas próprias redes de distribuição e fazem pressões junto às livrarias para darem destaque aos seus lançamentos.  Por exemplo, o livro Meditação: Primeira e Última Liberdade vendia cerca de 1.000 cópias ao ano nos Estados Unidos, editados pela Rebel. Quando a St.Martin’s Press de Nova York assinou contrato para publicar este livro em 1997, foram vendidos 10.000 exemplares só no primeiro ano.

      Em meados de 2006, existiam 2.537 contratos de publicação ativos num total de 54 idiomas diferentes em todo o mundo. Cada contrato representava um título do Osho que geralmente chega a um mínimo de mil leitores. As vendas totais anuais estão agora próximas de 3 milhões de exemplares, o que significa mais de 10 vezes o volume das vendas que haviam quando Osho estava no corpo.

      Há quem não goste das compilações nos livros mais recentes. Mas foram essas compilações que funcionaram como trampolim para as correntes majoritárias do mercado, aumentando a procura por livros do Osho. De fato, os editores agora têm mais confiança nele como autor e começaram a assinar contratos para títulos originais como A Semente de Mostarda que durante o ano de 2004 foi assinado para 24 idiomas. Um dos últimos títulos do Osho, de uma série bastante provocativa, foi publicado em português como O Deus que Nunca Existiu, e também em espanhol, alemão e russo. Isto seria impensável há poucos anos, quando nenhum editor se dispunha a considerar a possibilidade de publicar material tão controvertido. Mas o Sr. Michael Goerden, o editor da Ullstein, da Alemanha, chegou a dizer que esse título é “imprescindível para todo fã de Osho”.

      Recentemente, uma nova questão tem sido levantada. É a da apresentação de vídeos do Osho no Youtube. Há uma preocupação da Osho International com o que está sendo veiculado. Como detentora dos direitos autorais, ela é responsável pela preservação da autenticidade do material exposto, e tem sido bastante criteriosa neste caso.

      Há poucos meses recebemos a indicação de um video do Osho que estava disponível no youtube. Fomos até lá e vimos um clipe editado em que Osho falava uma série de coisas engraçadas, debochando e escrachando. Era uma parte de uma palestra, igual a tantas outras onde às vezes ele esculacha com alguma coisa e depois dá uma explicação mais abrangente e traz luz para a questão que lhe foi formulada.

      No caso desse clipe, ficou apenas a parte em que ele esculacha. Era como se fizéssemos uma seleção de piadas contadas por Osho e apresentássemos o clipe fora dos diversos contextos em que elas foram contadas. Osho não era um simples contador de piada, não era um Jô nem um Tom Cavalcante. Cada coisa que ele falava tinha um propósito. Posteriormente, eu tive acesso ao vídeo integral e vi o quanto aquele clipe anterior estava totalmente sem sentido e o pior, distorcia a mensagem dele. Por isso eu acho mesmo muito arriscado, deixar inteiramente livre o uso de vídeos do Osho no Youtube. Inclusive sabemos que tem muita gente com a intenção declarada de detonar com Osho. Fica fácil para essas pessoas apresentarem trechos de vídeos, fora do contexto e usarem para suas intenções de sujar o nome do Osho e lançar o descrédito à sua mensagem.

      Outro fato que merece registro foi de que há alguns meses, a Osho International retirou uns vídeos do Youtube, colocados por terceiros, e em seguida, ela própria recolocou aqueles videos no Youtube novamente, assegurando assim que a gravação era autêntica e confiável e que não tinha havido nenhuma edição. Assim, vários vídeos do Osho estão disponíveis no Youtube além daqueles que podemos acessar diretamente no site oficial www.osho.com .

      E aqui cabe uma pergunta: só eles podem dizer o que é autêntico e o que não é? Bem, esta é a função da Osho International. Ela é a detentora dos direitos autorais e administra todo o acervo deixado por Osho. Ninguém está mais qualificado para cuidar dessa questão.

      Osho nos diz repetidas vezes que o “Sannyas não é um movimento nem uma organização; Ao contrário ele é uma declaração de independência de todas as organizações, de todos os partidos e todas as igrejas”. Isto é certo. Mas é preciso não confundir sannyas com comuna e com organização. Sannyas é uma coisa. Outra coisa é a comuna que se reuniu ao redor do Osho e que já recebeu vários nomes. Ultimamente Osho chamou-a simplesmente de Escola de Mistérios e em outros momentos ele chama de seu Buddhafield, o campo de energia búdica, e que geograficamente compreende uma comuna em Puna e suas ramificações através dos seus Centros espalhados pelo mundo, que reúnem todo o “seu povo”. Para o funcionamento desses espaços, um mínimo de pessoas são necessárias e cada grupo cria o seu próprio jeito de sobrevivência. Alguns, até por exigência legal, têm que adotar uma organização formal. Muitas vezes esses espaços implicam trabalhos voluntários e outras vezes implicam trabalhos que geram recursos para a manutenção das próprias pessoas que estão trabalhando. É o caso dos terapeutas e dos espaços que também são centros de terapia. Essas unidades organizacionais não se confundem com um movimento sannyas, nem se torna uma hierarquia. E por trás delas existe uma comuna, uma sangha, que é como se fosse a sua alma. E esta precisa ser preservada, precisa ser cuidada. Essas unidades organizacionais funcionam muitas vezes como “fios terra”, tornando viáveis os pontos de encontro, os espaços para meditação e para dissolver os nós que bloqueiam o nosso crescimento e que também funcionam como portas para a dança e a celebração. Essas coisas não acontecem num espaço imaginário, na fantasia de nossas mentes. Elas precisam de espaço físico, de trabalho vivo concreto. Neste mundo globalizado, não há lugar para espaços sem um mínimo de organização, sem cuidados com sobrevivência, sem ações planejadas. Isso faz parte desse mundo que está aí. “Estar no mundo sem ser do mundo” é a máxima. Mas para estarmos no mundo temos que conhecer as regras desse mundo. Então temos que pagar aluguel da sala, temos que ter uma coordenação para receber uma taxa de participação na atividade, temos que observar a lei do silêncio, etc. Isto não quer dizer que vendemos a alma ao diabo. E ainda bem que tem alguns voluntários que se dispõem a cuidar dessas questões práticas e funcionais. Na verdade, os problemas e as críticas somente são levantados por aqueles que não conseguem ligar o seu próprio “fio terra”, não conseguem se conectar com as exigências práticas para a sobrevivência da comuna e dos centros. Imaginam que também nessas questões, a Existência pode cuidar de tudo, que vai nos dar de graça um espaço físico, com todos os equipamentos, prontinho para funcionar e sem que precisemos amarrar nossos camelos.

      De tudo isto, só posso chegar a uma conclusão. Como sannyasin, cabe a mim cuidar do meu próprio caminho. É uma questão minha, absolutamente pessoal, estar segurando a tocha da mensagem do Osho. Esta não é uma questão a ser defendida por um movimento sannyas ou um movimento do Osho ou pró-Osho. Esta é uma questão absolutamente pessoal. A mensagem do Osho se manifesta através das experiências de vida de cada um de nós. Nesse sentido, cada sannyasin é um representante do Osho.

      Mas é bom que o espaço onde Osho viveu e criou a sua comuna seja preservado, que continue tendo a meditação como tônica, onde as pessoas possam ir saborear a experiência do Zorba, o Buda.

      Ainda bem que tem um pessoal que está fazendo isto com zelo e critério.

      E também é muito bom saber que a mensagem do Osho está se espalhando por todo o mundo, que os livros estão sendo lidos cada vez por mais gente. E que bom que tem um pessoal administrando tudo isto com a competência exigida pelo mundo dos negócios, pois seria uma ingenuidade pensar que Osho entraria no mundo dos livreiros sem que as regras desse mundo fossem respeitadas.

      Que bom que estejam cuidando para que a mensagem do Osho seja espalhada sem distorções.

      Aqui no Brasil a gente vê com alegria os poucos amigos que têm se dedicado de coração à manutenção de Centros de Meditação, e aqueles que estão chegando para reforçar essa energia. Sabemos o quanto é difícil a manutenção desses espaços, sabemos o quanto este esforço é muitas vezes mal compreendido, e como o apoio e o retorno deixam a desejar. Mas são esses esforços, são esses pequenos grupos que mantêm acesa a vela da nossa Sangha.

      De coração, eu digo a todas essas pessoas, muito obrigado.

  

 

      “Eu estive só, viajando por todo o país de um canto a outro, por quase três semanas todos os meses, de trem, de avião, continuamente viajando e não havia muitos problemas. No dia em que eu iniciei o sannyas, a sociedade ficou alerta. Por que? Porque criar um campo búdico, criar uma sangha, significa que agora você está criando uma sociedade alternativa; você não é mais um indivíduo sozinho, você está reunindo poder, você pode fazer alguma coisa. Agora você pode criar uma revolução. Assim, as pessoas querem destruir todas as comunas. Você sabe, as comunas não têm vidas longas; muito raramente as comunas sobrevivem, muito raramente. Milhões de vezes, comunas têm sido criadas, e a sociedade as destrói mais cedo ou mais tarde, e mais cedo do que tarde...
      Atisha está lhe dando um grande insight. Particularmente para os meus sannyasins, isso tem que ser lembrado e meditado. O buda está aqui, a comuna já começou a acontecer e a verdade está sendo compartilhada. Agora é por sua conta ajudá-la a sobreviver, a protegê-la, de modo que ela possa viver por muito tempo e servir à humanidade por muito tempo..” 
(Osho – The Book of Wisdom – cap 17)

 

 

 

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