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O propósito dos grupos de terapia do Osho

O texto abaixo foi extraído do livro Take It Easy - publicado no Brasil
pela Editora Gente sob o título Vá Com Calma, em quatro volumes.
Os volumes 1 e 2 encontram-se esgotados.

A segunda pergunta:

O propósito dos grupos de terapia é levar os participantes para seus eus naturais? Se for assim, o esforço para ser natural não é artificial? Se não, qual é a diferença essencial entre natural e artificial?

O propósito dos grupos de terapia não é levar os participantes a seus eus naturais — de modo nenhum. O propósito é levá-los ao ponto onde possam perceber suas artificialidades. Ninguém pode levá-lo a seu eu natural; não pode haver método, técnica ou estratégia que possa levá-lo a seu eu natural, pois tudo que você faça o tornará mais e mais artificial
          Então qual é o propósito de um grupo de terapia? Ele simplesmente o deixa consciente dos padrões artificiais que você desenvolveu em seu ser, ele simplesmente o ajuda a perceber a artificialidade de sua vida, isso é tudo. Ao perceber isso, ela começa a se dispersar. Percebê-la é aniquilá-la, pois uma vez percebido algo artificial em seu ser, você não pode persistir com ele por muito mais tempo. E ao perceber algo como artificial, você também sentiu o que é natural — mas isso é indireto, vago, não claro. O que é claro é isto: você percebeu que algo é artificial em você, e com isso você pode sentir o natural. Ao perceber o artificial, você não pode apoiá-lo mais. Ele existe devido a seu apoio — nada pode existir sem o seu apoio; sua cooperação é necessária.
          Se você coopera, algo existe. Certamente o artificial não pode existir sem a sua cooperação. A partir de onde ele obterá a energia? O natural pode existir sem a sua cooperação, mas o artificial não. O artificial precisa de constantes suporte, cuidado e controle. Uma vez percebido que algo é artificial, sua ligação a ele se torna frouxa, seu punho se abre espontaneamente.
          O grupo não é uma estratégia para abrir o seu punho, mas simplesmente para ajudá-lo a perceber que o que você está fazendo não é natural. Nessa própria percepção, a transformação.
          Você pergunta: O propósito dos grupos de terapia é levar os participantes para seus eus naturais?
          Não, este não é o propósito. O propósito é simplesmente torná-lo consciente de onde você está, do que você fez a você mesmo — que mal você fez continuamente, e ainda está fazendo, que feridas você está criando em seu ser. Em cada uma das feridas está sua assinatura — este é o propósito do grupo, torná-lo alerta sobre a sua assinatura, perceber que ela é assinada por você, que ninguém mais fez isso, que todas as correntes que você tem à sua volta são criadas por você, que a prisão na qual você vive é o seu próprio trabalho; ninguém está fazendo isso para você.
          Ao perceber isto, que “Estou criando minha própria prisão”, por quanto tempo você pode continuar a criá-la? Se você quer viver na prisão, esse é um outro caso — mas ninguém jamais deseja viver na prisão. As pessoas vivem lá porque pensam: “Os outros estão criando as prisões, o que podemos fazer?”. Elas sempre ficam atirando a responsabilidade sobre uma outra pessoa. Através dos tempos, elas criaram novas e diferentes estratégias, mas o propósito permanece o mesmo: jogar a responsabilidade sobre outro alguém.
          E você ficará surpreso com as desculpas que o ser humano tem tentado encontrar. Antigamente as pessoas costumavam pensar: “Essa é a maneira que Deus nos fez, então a responsabilidade é dele — o que podemos fazer? Somos apenas criaturas, e somos da maneira que ele nos fez. Temos que viver essa miséria, isso está destinado”.
          Esse era um truque. Você se livra de toda responsabilidade. Mas acontece que quando um truque é usado por muito tempo, ele se torna um chavão e não funciona mais; as pessoas ficam fartas dele e começam a procurar por novas idéias, mas o propósito permanece o mesmo.
          Marx diz que é a sociedade, a estrutura econômica da sociedade — a exploração, os exploradores, os imperialistas, os capitalistas, eles estão fazendo o mal, são a razão. Novamente você se livra da responsabilidade. O que você pode fazer? A escravidão é imposta sobre você, você foi feito miserável. A menos que a revolução venha, nada vai acontecer. Assim você pode adiar.
          E a revolução nunca vem, ela ainda não aconteceu. Nem na Rússia, nem na China, nem em lugar algum. A revolução nunca vem, ela é apenas um adiamento. As pessoas estão tão infelizes na Rússia quanto em qualquer outro lugar, tão no lamaçal da mente quanto em qualquer outro lugar. A inveja, a raiva, a violência são iguais tanto na Rússia quanto em qualquer outro lugar... nada mudou.
          Freud diz que é por causa da educação. Você foi educado de uma maneira errada em sua infância — o que você pode fazer? Isso já aconteceu, agora não há como desfazê-lo. No máximo, você pode aceitar e viver isso, ou pode continuar a brigar desnecessariamente, mas não há esperança.
          Freud é um dos maiores pessimistas que jamais existiu. Ele diz que não há esperança para o ser humano, pois o padrão é estabelecido na infância — e para sempre. Então você fica repetindo o padrão, e novamente a responsabilidade é jogada fora. Assim, sua mãe é a responsável. E a mãe pensa, o que ela pode fazer? Sua própria mãe é responsável... e assim por diante.
          Essas são todas estratégias, mas o propósito é o mesmo — diferentes estratégias para o mesmo propósito. Qual é o propósito? Tirar a responsabilidade de seus ombros.
          A terapia de grupo é para torná-lo consciente que nem Deus nem a sociedade nem seus pais são responsáveis. Se houver alguém que é responsável, é você. Um processo de grupo é um martelar neste simples fato: você é o responsável. E esse martelar tem uma grande importância, pois quando você entende que “Isso sou eu, eu próprio estou fazendo mal a mim mesmo”, então as portas se abrem, há esperança e algo é possível.
          A revolução é possível através da responsabilidade, da responsabilidade individual. Você pode se transmutar, pode abandonar esses velhos padrões. Eles não são o seu destino, mas se você os aceitar como o seu destino, eles se tornam o seu destino. É tudo uma questão de apoiá-los ou não.
          E não estou dizendo que os pais ou a sociedade não fizeram algo a você, lembre-se. A sociedade, os pais, a educação e os sacerdotes fizeram muito. Mas ainda assim, a chave suprema está em suas mãos. Você pode abandonar isso, pode abandonar todo o condicionamento. Tudo que eles fizeram, você pode eliminar, pois no cerne mais profundo sua consciência permanece sempre livre. Esse é o propósito de um grupo de terapia, trazer esta verdade para casa: você é responsável.
          “Responsabilidade” é a palavra mais importante num processo de terapia de grupo. Ninguém deseja assumir a responsabilidade, pois ela machuca. Só de perceber: “Sou a causa de minha infelicidade”, machuca muito. Se alguém mais é a causa, a pessoa pode aceitá-la, a pessoa é impotente. Mas se eu sou a causa de minha infelicidade, isso machuca, vai contra o ego, contra o orgulho.
          É por isso que a terapia de grupo é um processo difícil e árduo. Você quer escapar — dos grupos Encontro, Tao, Terapia Primal... Por que você quer escapar? Porque você sempre acreditou que estava perfeitamente certo e bem — os outros tem prejudicado você.
          Agora toda a coisa precisa ser mudada, você precisa colocar tudo de ponta cabeça. Ninguém está fazendo nenhum mal a você, e se eles estiverem fazendo, é através de sua cooperação. Portanto, no final das contas você é responsável, você escolheu isso. Você diz: “Meu companheiro está me prejudicando”, mas você escolheu este companheiro, e na verdade, somente para que ele possa fazer mal a você. Você queria se prejudicar, por isso escolheu este companheiro, esta companheira.
          Observe os homens que ficam mudando de companheiras. Você ficará surpreso — repetidamente eles encontram o mesmo tipo de mulher. É difícil encontrar o mesmo tipo de mulher, mas eles encontram. E dentro de seis meses elas estão de novo se queixando, e as queixas são exatamente as mesmas.
          Ouvi dizer de um homem que se casou oito vezes, e repetidamente conseguia encontrar o mesmo tipo de mulher. Perceba o ponto: ele tem um certo tipo de mente, um certo condicionamento. Neste condicionamento, somente um certo tipo de mulher lhe interessa. Uma loira ou uma morena — um certo tipo de mulher lhe interessa. O nariz comprido, os olhos escuros, ou qualquer coisa. Ele fica sempre atraído por um certo tipo de mulher. E então essa mulher começa a fazer as mesmas coisas, e ele fica perplexo, pois estava pensando que estava mudando de mulher.
          Você está mudando de mulher, mas não mudou sua mente! Assim, sua escolha permanece a antiga, pois aquele que escolhe é antigo. Isso não vai ajudar; você estará na mesma armadilha. A cor ou o material da armadilha pode mudar, mas a armadilha está lá, e você será constantemente pego. E a mesma infelicidade surgirá.
          Terapia de grupo é um grande processo de entender “O que fiz para mim mesmo!”. E se você for ainda mais fundo... onde nenhum grupo de terapia já foi, nem mesmo a terapia primal. Mas Buda foi mais fundo; ele diz: “Se você escolheu um certo tipo de pais, isso também é sua escolha”.
          Perceba o sentido. Milhões de tolos estavam fazendo amor quando você estava pairando para nascer. Mas você escolheu um certo casal — por quê? Você deve ter uma certa idéia; trata-se de sua escolha. E então você diz: “Meus pais me prejudicaram”. Em primeiro lugar, por que você os escolheu? Então sua companheira, seu companheiro... e você acha que eles causaram dano? Então a sociedade — quem criou esta sociedade? Você a criou! Ela não vem do nada.
          O mendigo na rua não aparece de repente do nada. Nós o criamos. Se você quer ser rico, alguém tem que ser mendigo. E ao ver o mendigo você lamenta muito. A quem você está tentando enganar? E você ainda carrega a idéia de ficar rico. Se você quer ficar rico, alguém vai ser mendigo. Se você quer se tornar alguém, então alguém não será capaz de alcançar essa fama, esse nome. Este é um mundo competitivo. Você não quer guerras, mas você é violento — em tudo. E você condena as guerras.
          E você viu os pacifistas e suas passeatas? Quão violentos eles parecem! Seus slogans, seus gritos contra a guerra — e mais cedo ou mais tarde a passeata se transforma num tumulto. E eles estão queimando carros, destruindo lojas, incendiando ônibus e trens, atacando a polícia... e eles foram para protestar contra a guerra!
          Ora, o que está acontecendo? Essas são pessoas violentas; a guerra é apenas uma desculpa. Seus protestos nada mais são do que suas expressões de violência. Eles não estão preocupados com a guerra, e a estão usando como um pretexto.
          Esta sociedade é criada por você, e então você diz que a sociedade é responsável.
         
Ninguém é responsável, exceto você. Esta é uma das verdades mais difíceis de aceitar, porém quando você a aceita, ela traz grande liberdade e cria grande espaço, pois com isso, uma outra possibilidade imediatamente se abre: “Se eu sou responsável, então posso mudar. Se eu não for responsável, como posso mudar? Se eu próprio estou fazendo isso, então isso machuca, mas também traz uma nova possibilidade — posso parar de me ferir, posso parar de ser infeliz”.
          Um processo de grupo não é para torná-lo natural, mas para torná-lo ciente de sua falta de naturalidade, de sua falsidade.
         
O propósito dos grupos de terapia é levar os participantes para seus eus naturais?
          Não, de modo nenhum. O propósito é apenas deixá-los cientes do eu não-natural. E então o eu natural vem espontaneamente. Ninguém pode trazê-lo — quando o artificial desaparece, o natural é encontrado. O natural sempre esteve presente, oculto sob o lixo. Uma vez ido o artificial, você é natural. Você não se torna natural; você sempre foi natural. Como alguém pode se tornar natural? Todo o tornar-se o levará à artificialidade.
         
Se for assim, o esforço para ser natural não é artificial?
          Sim, o esforço para ser natural sempre é artificial. Mas entender a artificialidade não é o esforço para ser natural; é simplesmente entender. Ao perceber que você esteve tentando tirar óleo da areia, quando você percebe a inutilidade disso, você abandona todo o projeto. Ao perceber que você estava tentando atravessar uma parede e machucou sua cabeça, ao perceber isso, você pára de tentar. Você começa a procurar pela porta.
          Sim, é exatamente assim.
         
Se não, qual é a diferença essencial entre natural e artificial?
          Natural é aquilo que lhe foi dado como uma dádiva — uma dádiva do todo. O artificial é aquilo que você criou — por ensinamentos, escrituras, caráter, moralidade. O artificial é aquilo que você impôs sobre o natural, o dado. O natural é de Deus, o artificial é de você mesmo. Tire tudo que você impôs sobre você mesmo, e Deus explodirá em mil flores em seu ser.
          Alguém pergunta a Jesus: “Qual é a sua mensagem fundamental?”. E ele responde: “Pergunte ao peixe, à ave e à flor”.
          O que ele quer dizer com isso? Ele está dizendo: Pergunte à natureza!
          Minha mensagem é: Permita que a natureza tome posse de você; não tente criar nenhum caráter. Todos os caráteres estão errados. Seja sem caráter. Não crie nenhum tipo de personalidade; todas as personalidades são falsas. Não seja uma personalidade.
          Então, lentamente você perceberá algo surgindo do cerne mais profundo do seu ser. Isso é natureza, e sua fragrância é notável; ela é boa, jamais ruim. E ela não é cultivada, de maneira nenhuma. Daí ela não ter qualquer tensão em si, nenhuma ansiedade; você não precisa mantê-la.
          A verdade não precisa ser mantida. Somente mentiras precisam ser arranjadas, mantidas, precisam muito cuidado e manutenção; e ainda assim elas são mentiras e nunca se tornam verdades. E somente a verdade liberta.
          A terapia disponível aqui não é para torná-lo natural. Ninguém pode fazer você natural — Deus já fez isso. O problema não é aprender a ser natural, mas como desaprender o artificial.

                                          OSHO - Take It Easy - pergunta nº 2 do discurso nº 12
                                                  Tradução: Sw. Anand Nisargan

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